sábado, 27 de agosto de 2011

Sobre crisântemos e petúnias




Chegando no jardim, fui bem recebido. Apresentaram-me ao jardineiro, mostraram como cuidar das plantas, me ajudaram quando ervas daninhas quase me sufocaram.


Depois de um tempo em meio àquela mistura de cores e aromas, senti que podia fazer algo pelas outras flores. Tive uma reunião com o jardineiro, que, muito cortês, como sempre, ouviu atentamente enquanto me colocava à disposição para ajudar. Como era de seu costume, a princípio ficou quieto, apenas ouviu. Disse-me para esperar, que daria uma resposta na hora em que julgasse conveniente.


Aguardei ansiosamente até que um dia fui convidado a cuidar dos crisântemos. Fui chegando um tanto arredio, mas fui bem recebido. Alegraram-se com a minha presença, foram-me gratos pelos conselhos , por fazer-lhes sombra e encontrar-lhes água. Com o passar do tempo, acabei decobrindo que também podia ser um crisântemo. Afinal, me sentia como eles e, quando faltavam pétalas, emprestavam-me as suas de bom grado.


E, assim, encontrei meu lugar no jardim. Minha maior alegria era ver as sementes brotando, os caules se desenvolvendo, a busca pela luz do sol e pelo alimento na terra. Se algum dia chegariam a virar flor era apenas um detalhe. Não nego minha alegria quando isso acontecia. Ver suas pétalas coloridas refletindo a luz do dia e sentir seu perfume em meio a noite era algo sublime, sem dúvida. No entanto, bom mesmo era ver o desenrolar do processo, acompanhar seu crescimento, sua desesperada busca pela plenitude.


Um dia, porém, fui procurado por alguns que diziam falar da parte do jardineiro. Agradeceram pela dedicação, mas disseram que meus serviços entre os crisântemos não eram mais necessários e que já estava na hora de eu cuidar das petúnias. Dos crisântemos cuidariam eles. Entristeci-me, não posso negar, mas falaram com tanta propriedade que ficou difícil de argumentar.


Mesmo a contragosto, fui tentar cuidar das petúnias. Não era de todo mal, mas não conseguia ficar feliz como ficava entre os crisântemos. As petúnias me receberam bem, mas não me emprestavam suas pétalas. Não consegui me sentir como elas. Fiquei em seu meio um tempo, mas sem conseguir contribuir como fazia em meio a meus antigos amigos.


Finalmente, desapareceu o desejo de colaborar, uma vez que o trabalho não mais me empolgava. As petúnias eram tão importantes quanto os crisântemos, me disseram, e até mesmo concordei. Mas era impossível me misturar a elas. Pelo menos para mim. Ainda me sentia um crisântemo.


Afastei-me daquele jardim. Fiquei a sós com o jardineiro. Mais uma vez, ouviu pacientemente. Contei-lhe que queria conhecer outro jardim e ele prontamente me levou a um que estava próximo. Ao chegar ali, nem precisei falar para que ele entendesse. Apenas olhou com seu ar de compreensão e garantiu:


- Já volto para te mostrar onde ficam os crisântemos.