Sabia que aquele momento chegaria. Chegou a apegar-se à ilusão de que não, mas sabia que haveria de chegar.
Ele chegaria e não havia outro jeito, tinham de se encarar. Já que seria obrigada a encará-lo, preferiu não encarar a si mesma e evitou os espelhos. Preferiu a procrastinação do encontro com a vergonha de seu próprio rosto. A vida toda fora assim: procurando adiar o inadiável. Por isso metera-se naquela situação. Se ao menos tivesse dito a verdade, o que realmente sentia... se começasse colocando um ponto final, como tantas vezes fora aconselhada pela canção! Mas agora já era tarde.
Às duas e trinta e oito, a campainha tocou. Como quisera atrasar um pouco mais o que tanto temia, arrastou os passos. Abriu a porta e ele entrou sem dizer palavra. O ressentimento enchia os olhos daquele que amou ardentemente tantas vezes.
- Café?
-Com açúcar mascavo.
E só.
Como por instinto, acabou lidando com a situação da única forma que sabia. Enquanto ele apoiava o pires sobre a bancada da cozinha, deixou que seus seios lhe roçassem levemente o ombro. Preparou o olhar cheio de malícia para lançá-lo nos olhos de sua presa. Bastou aquele gesto para que o corpo tomasse as rédeas e deixasse de lado a razão.
Momentos de confusão entre côncavo e convexo... Celebraram, de forma corrompida, o que deveria ser um dom precioso concedido pelo Criador.
Por fim, Virgínia deitou-se exausta enquanto ele abotoava a camisa e saía pela porta confusa. Mais uma vez, adiara o adeus. Até quando? Não importava, ainda o tinha em suas mãos.